Para J.
Tem pesos que quero levar pra
sempre. O peso das pessoas no meu colo, por exemplo. Esse peso quero sempre em
mim.
Tem pesos que são melhores quando
ficam leves. O peso dos sentimentos não falados. Gosto do peso leve de poder
deixar sentir, permitir sentir – olha que isso é uma construção das mais
difíceis nesses tempos que correm – e deixar ir quando tem que ir.
Mas deixar ir só a parte que tem
que ir. Nunca quero que tudo se vá. Quero que fique. Aliás, tenho aprendido que
temos que deixar ir pros bons pesos ficarem. Pros colos ficarem.
E essa tranquilidade doída (porque
mesmo tranquila não deixa de doer) vem no e com nosso tempo histórico singular.
Antes não poderia falar isso. Agora falo e vivo isso. Não sei por qual caminho
vou, mas caminho porque sei de qual caminho quero me distanciar.
Quero viver e pra isso deixo as
coisas que me travavam pra trás e tateio no escuro. Não tenho as respostas do
que quero (e muitas vezes nem do que sinto) e por isso preciso viver tudo isso.
Viver tudo isso é doce e amargo. É o caminho que quero. E, justamente por
querer, me faz enfrentar o que até então aprendi e que já não me sustenta.
Toda essa dificuldade de expressar
o que sinto e o que quero, não é bem uma dificuldade de sentir e expressar. É,
sim, a expressão do tempo que vivo, de afastamentos e aceitações de coisas
minhas.
Agora estou nessa tranquilidade
doida. Não é fácil (e acho que nem é o que queria), mas é o que posso. É como
posso, nesses dias, viver o tempo, seus pesos e suas andanças.
01/09/2014.