segunda-feira, 2 de setembro de 2013

De quando não me posicionei (ou sobre comentários preconceituosos).



Vi uma situação de assédio moral num ônibus, de um motorista direcionada à duas meninas. Não me posicionei.
Um comentário sobre um tênis de menino. Não me posicionei... Na verdade, me posicionei conservadoramente.
Em uma conversa com familiares sobre homossexualidade. Não me posicionei.
Numa outra conversa com amigas. Titubiei.
Mais uma conversa com familiares e com amig@s e com desconhecid@s. Cometários (piadas?) racistas. Dificuldade de me posicionar.
Era uma aula... não apontei algumas questões.
Num bar qualquer, uma situação quase cotidiana - infelizmente - de aproximação violenta. Me calei.
Uma professora, em um dia dificil. Fiz um cometário machista.
Uma "opinião" na internet: "Pobre é vagabundo e o governo ainda dá dinheiro pra eles não trabalharem". Deixei passar.
Um tratamento com "ar de superioridade" em um restaurante. Silêncio.
Uma reação homofóbica num ônibus. Sem reação.
Certa "passada de mão", em outro ônibus. Momento de dúvida. Foi realmente isso?
Uma cantada na rua. Sem resposta.
Situação de violência institucional em uma sala de espera. Não interpelei.
Não fui na reunião do sindicato. Não fui na reunião de organização da greve.
Um bate-papo antes do treino. Um comentário preconceituoso. Não me posicionei.
Um isso, um aquilo... sempre...
Situações assim, de quando não me posicionei, me vem à cabeça de tempos em tempos. Aconteceram horas ou anos atrás, mas sempre me lembram - me doem - que ainda tenho (temos!) muito a avançar, muito a crescer, muito a me libertar. Muito ainda a percorrer na direção do Humano.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Reflexões de uma noite de sábado.

Num jantar com amig@s, dessas típicas reuniões de comemoração – no caso, despedida de um recém-amigo que já se vai geograficamente pra longe – fala-se muito. Todos os assuntos são motivos de debate. Ainda mais depois de bem alimentad@s, com a comida mais que especial, preparada para a ocasião e acompanhada de um bom vinho. Reencontram-se pessoas. Quem diria que amizades em comum desconhecidas iriam se encontrar num sábado a noite! Essas coisas boas da vida. Pessoas se conhecem, histórias da vida se aproximam, relembram-se, apresentam-se. E, não sei porque, tem um momento - não sei precisar com clareza qual - que algumas histórias tomam corpo e adentram como o assunto que embala a noite. Nessa noite, “histórias de horror” vieram a baila. Histórias de vivências de medos, terrores cotidianos que nós, mulheres que estávamos no grupo relatamos. Histórias quase que diárias (se não realmente diárias) que, simplesmente por possuirmos atributos considerados femininos, nos assombram. Masturbação em ponto de ônibus, de um único homem, que consegue coagir, constranger, desafiar e controlar cinco mulheres. Ataques nos ônibus municipais, homens esfregando-se em nossos corpos. Perseguições na rua, em plena luz do dia ou da noite. Medos diários. O estupro está em nossas mentes. Muito do nosso dia é tensionado com a possibilidade e a vulnerabilidade de não poder simplesmente ir à casa de um amigo sem estar atenta. E isso faz tanto parte de nossas vidas, da vida das mulheres, que o assunto surge em reuniões de amig@s, em conversas informais, em intensos debates, enfim, em diversos espaços, tão naturalmente. Sei que ontem fiquei pensando na dimensão disso tudo. 

Pensando nas diversas mulheres estupradas diariamente... por seus maridos, amigos, conhecidos, desconhecidos, no estupro utilizado como arma de guerra, nas ameaças, insinuações e simulações, no “foi só uma brincadeira”, na piada, nos estupros corretivos, (insira aqui mais situações)... Esse é somente um dos aspectos desse modelo que nos submete enquanto categoria social. Um dos vieses da ordem patriarcal de gênero, que garante a (re)produção da exploração-dominação. E o que mais assusta é que é cotidiano para todas nós. Se não já sofremos, conhecemos quem já tenha vivido dessas histórias de horror. E me fale se isso já não é de nos fazer movimentar?